Depois de assentar essa tese, procurei aproximar-me da questão relativa aos professores seminários estipendiados, e disse, falando teoricamente também, que o Estado não é instituído para instruir o povo nisto ou naquilo, que o ensino constitui uma indústria, ou, se preferem esta palavra, uma profissão dos particulares como outra qualquer, que, portanto, o Estado não pode monopolizar o ensino, nem contrariar as leis da livre concorrência fornecendo-o, gratuitamente ou mediante paga, em institutos seus, que, finalmente, o Estado não pode impedir que a Igreja ensine o que quiser, e aonde quiser, sem dependência nem à custa dele.
Eis aí a teoria, ou por outra, a aspiração do futuro. Mas as circunstâncias do presente restringem os limites do ideal, e nisso consiste o aperfeiçoamento humano, a lei do progresso, do andamento gradual. Ora, quando a Igreja é constituída teocraticamente, vive das tradições feudais, e abraça-se aos símbolos da Idade Média como se foram a imagem fiel da sua origem divina ou o tipo do seu futuro, quando a Igreja, caracterizada pelo ódio violento, pelo ceticismo corruptor, pelo materialismo vulgar e pela tenacidade fatalista do cardeal Antonelli, reage contra o século em vez de abraçar-se com ele, e entrega a cadeira de São Pedro, sobre cujos fechos de ouro descera um raio da liberdade, às mãos poluídas do sangue derramado em Nápoles, expondo aos olhos de todos esta triste contradição, 1847 e 1861, quando os emissários de Roma vagueiam de porta em porta, de cidade em cidade, cobrindo com o manto escuro da hipocrisia selvagem a face iluminada dos filhos do século XIX, quando a reação se ostenta e o fanatismo desce do alto, é justo, dissemos nós, é necessário, repetimo-lo hoje, que o governo encare a Igreja Católica com o olhar da mais profunda desconfiança,