Cartas do Solitário

liberal". Vede como se faz justiça às opiniões alheias! Eu que preguei a máxima liberdade teórica, sou acusado da autocracia mais violenta e porque sustento que em um estabelecimento que o Estado inspeciona e paga, é ele o único superior, segue-se que proponho uma reforma religiosa a anglicana! Ao contrário, falei em nome das leis escritas, recordei o direito pátrio, e fiz valer a prerrogativa do padroado, e acrescentei que, se os bispos querem a liberdade plena, dispensem também os auxílios do imposto, serviço por serviço, concessão por concessão.

Demais, a impugnação do comunicante não é feita com seriedade, e é curioso vê-lo citar o texto: Ite et docete omnes gentes, para resolver uma questão que só consiste em saber se um instituto pago pelo Estado depende ou não do Estado. Objectar-se-á que não pode o Estado ter faculdades ou estabelecimentos em que se lecionem a teologia, o canto gregoriano, a história sagrada, como tem outros em que se ensinam o justo e o injusto, as linhas e os planos, os mistérios do seio da terra e os segredos dos astros que giram no espaço?

Se o comunicante do jornal parece rir-se de que nos tenhamos ocupado da questão religiosa, como zomba do vosso ilustre colaborador que tratou brilhantemente da guerra dos Estados Unidos e da escravatura, se está o seu estilo e o peito de sua frase traindo o profundo ceticismo do escritor, ao menos pode-se ler com agrado o artigo do correspondente da mesma folha que se assina Justus. O cavalheiro que traçou essas linhas tem uma ideia elevada da missão da imprensa e compreende todo o alcance das questões. É um espírito livre, como parece um homem bem educado, que não desvirtua as opiniões que combate, refere com fidelidade

Cartas do Solitário - Página 109 - Thumb Visualização
Formato
Texto