Cartas do Solitário

palavra, tratemos do povo, e, para subir gradualmente, comecemos pelo miserável (14)

Nota do Autor

A estas palavras, "povo" e "miserável", imagino que me encarais com ar de estranheza... Não, vós não as estranhareis!

Sim, há uma cousa que se esquece muito no Brasil. É a sorte do povo, do povo, que não é o grande proprietário, o capitalista riquíssimo, o nobre improvisado, o bacharel, o homem de posição. Fala-se todo o dia de política, canta-se a liberdade, faz-se de mil modos a história contemporânea, maldiz-se dos ministérios, e evoca-se a constituição do seu túmulo de pedra. Ora-se a propósito de tudo, menos a propósito do povo. Escreve-se a respeito de Roma e Grécia, de França e Inglaterra, mas não se escreve acerca do povo. Enviam-se os sábios do país a estudar a língua dos autóctones, a entomologia das borboletas e a geologia dos sertões, mas não se manda explorar o mundo em que vivemos, não se observam os entes que nos rodeiam, não se abrem inquéritos acerca da sorte do povo.

Queixava-se Bastiat, aquele homem de coração, de que os jornais importantes em 1849 se agarrassem exclusivamente à política militante e estéril dos partidos, e se esquecessem de agitar as questões de fundo, as questões sociais. Eu dirijo a mesma queixa à imprensa e aos homens do nosso tempo.

Desçamos, meu amigo, desçamos às mais baixas camadas. Penetremos na escuridão. Avivemos uma esperança

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