Cartas do Solitário

não havia outro meio mais vantajoso para aumentar a prosperidade do Brasil. Eu respondo positivamente que havia, e era a emigração europeia, como, vou mostrar.

Certamente, não poderíamos obter um número de emigrantes igual ao dos negros que o tráfico manualmente importava. Houve ano, com efeito, o de 1817, em que este despejou em nossas costas 57.800 escravos. Atenda-se, porém, que está verificado que o trabalho escravo se acha na razão de metade para o trabalho livre. Em nosso próprio país, e particularmente nas colônias de parceria, pode-se bem observar a diferença indicada. O homem livre, o homem branco, sobretudo, além de ser muito mais inteligente que o negro, que o africano boçal, tem o incentivo do salário que percebe, do proveito que tira do serviço, da fortuna enfim que pode acumular a bem de sua família. Há entre esses dous extremos, pois, o abismo que separa o homem do bruto. É fato, que a ciência afirma de um modo positivo. Assim, podemos calcular que, se obtivéssemos no tempo do tráfico um número de emigrantes europeus igual à metade dos negros importados, teríamos a certeza de que aqueles produziriam tanto como estes. Mas essa proporção não é ainda a exata. Os escravos da costa da África morriam em grande número durante o transporte, e eram também horrivelmente dizimados em terra pelas moléstias contraídas na viagem e por outros motivos. Acresce que o trabalhador livre, no seio de sua família, de ordinário reproduz-se de um modo lisonjeiro. Ainda há pouco ouvíamos afirmar que a população das colônias do Rio Grande do Sul aumenta na razão de 5% cada ano. O contrário acontecia e acontece com os escravos. Não seria raro o ano em que o número de óbitos excedesse nas fazendas ao

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