Cartas do Solitário

por diante, a emigração cresceu logo mais e mais. Segundo o relatório último do ministro da Agricultura, a estatística dos estrangeiros entrados no Brasil, durante 1859, apresenta o total de 19.695, dos quais 6.089 indivíduos são alemães e de outras nacionalidades diferentes da portuguesa. Em 1860, o mesmo relatório diz que aquela soma desceu a 15.636.

Desses, porém, é certo que uma grande parte não se aplica hoje às empresas agrícolas, as quais ainda possuem muitos escravos, mas se estes não existissem em tão grande quantidade, a sua falta seria necessariamente preenchida pelos emigrantes. Vê-se, pois, que, logo nos primeiros anos posteriores ao desaparecimcnto do comércio de negros, estamos obtendo manualmente um número de europeus (entre 15 a 19 mil) muito superior à terça parte, que lhes corresponde, do meio termo de negros importados na época do maior desenvolvimento do tráfico.

Deste fato eu julgo poder tirar a seguinte consequência: se o tráfico já não existisse em 1840, por exemplo, o Brasil encontraria na emigração europeia uma quantidade de braços equivalente, em força de trabalho, ao número de negros que aquele importava. Com efeito, se hoje, não obstante o grande número de escravos, recebemos entre 15.000 a 19.000 colonos, poderíamos conseguir então a metade pelo menos, porção que cresceria gradualmente. Ora, 8.000 a 9.000 homens eram quase a terça parte, como vimos, da média dos escravos introduzidos nos dias da maior atividade do tráfico. Não resta, pois, dúvida alguma de que o tráfico de negros não era indispensável ao Brasil. Se ele não existisse, existiria uma corrente de emigrantes, todo o dia em aumento. Se em 1829, ano em que expirou o prazo marcado na convenção com Inglaterra, se tivesssem

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