Cartas do Solitário

empregado meios enérgicos para a repressão do tráfico até que desaparecesse, a emigração europeia procuraria os portos do Brasil inevitavelmente. Então começava a época em que devia declinar a corrente para os Estados Unidos. Por outro lado, pouco depois, a fome e a miséria começaram a devastar a Irlanda, a Inglaterra e alguns países da Alemanha. Finalmente, ainda estava muito distante a época em que a descoberta de preciosas minas na Califórnia e na Austrália devia dirigir para esses dous pontos do globo grande número de europeus. O tráfico, porém, recrudescendo mais e mais, impedia ou suspendia o movimento da emigração. O contrário deveria suceder, se, reprimindo o bárbaro comércio, convencidos da maior conveniência dos europeus, dirigíssemos para aí os nossos esforços combinados, preparando derrubadas próximas das grandes cidades do litoral, com estradas para estas, com os primeiros edifícios provisórios, em ordem a formar verdadeiros núcleos de colonização estrangeira. Valia a pena para isso até fazer um sacrifício, contrair um empréstimo, aumentar a dívida pública, quando não bastassem os recursos ordinários do Estado. A prova mais evidente de que o tráfico obstava a emigração, e de que esta cresceria não existindo aquele, é o desenvolvimento da mesma de 1850 para cá, excedendo as vezes de 19.000 indivíduos por ano, como acima dissemos. E, uma vez que a não embaracem, ela há de prosperar sob o regime da liberdade.

Meu desígnio, porém, não se limita a provar que o Brasil podia dispensar o comércio de escravos. Desejo ainda mostrar que ele foi muito prejudicial a certos respeitos, e tanto que, quando mesmo não pudesse ser substituído pela emigração, europeia, fora preciso bani-lo em todo o caso.

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