numerosa. Estes fatos são tão eloquentes que dispensam comentários. Cada africano que se introduzia no Brasil, além de afugentar o emigrante europeu, era, em vez de um obreiro do futuro, o instrumento cego, o embaraço, o elemento de regresso das nossas indústrias. O seu papel no teatro da civilização era o mesmo do bárbaro devastador das florestas virgens.
Depois disso, há quem pretenda negar a influência horrível da escravatura sobre os costumes de um povo? E, ainda mais, a fisionomia grosseira, materialista e brutal de um comércio, cujo ramo mais lucrativo era o de uma especulação horrível sobre a sorte, a liberdade e a vida de muitos milhares de miseráveis? Atenda-se bem para o extraordinário contágio desses fatos. O tráfico era uma verdadeira peste; infelizmente ele não desapareceu sem deixar no espírito, nos hábitos e nas tradições do povo muitos sinais de sua passagem!
Costuma-se desculpar o comércio de negros com a impossibilidade de se habituarem os emigrantes europeus ao rude clima da mor parte de nossas províncias e ao plantio da cana-de-açúcar. Nunca julguei impossível a colonização para as províncias do norte; seria difícil, é verdade, atrair para ali uma corrente de emigrantes alemães, suíços, irlandeses etc.; mas, no sul da Europa, existiam os portugueses, alguns dos quais formam hoje núcleos coloniais no Maranhão. Quanto à cana-de-açúcar, se não houvesse meio de melhorar, facilitar e adaptar o cultivo da planta (não trato do fabrico do açúcar, aonde o inconveniente é menor) a trabalhadores menos grosseiros do que o africano, se isto não fosse possível, é natural que esse ramo da lavoura cedesse gradualmente o terreno a outros, aos gêneros alimentícios, e ao algodão sobretudo.