Cartas do Solitário

fevereiro de 1810, fez escrever que nunca se estabeleceria no Brasil a inquisição. Foi a sua intervenção, finalmente, que tornou menos sanguinolenta, mais fácil e mais breve a nossa independência.

A propaganda, porém, negava tudo e descrevia a Grã-Bretanha como um inimigo natural de nossa prosperidade, que ela contrariava de caso pensado, opondo-se ao exercício de um comércio que, desde o seu começo, fora exercido extensamente por ingleses. A história, é verdade, socorria neste ponto a propaganda. Sabe-se que, pelos tratados de 26 de março e 13 de julho de 1713, a Espanha concedeu à Inglaterra o fornecimento exclusivo de escravos para as suas colônias. Foi este um objeto de disputas e de graves discussões com a França, que gozara também de igual favor. Dever-se-ia, porém, concluir desses fatos de um passado tão distante contra o proceder dos ingleses no século atual? Desde os primeiros anos deste, o governo inglês, movido pela influência crescente das sociedades contra a escravatura, começou de tecer essa rede de tratados com as diversas potências, em que afinal devia ser apanhado e esmagado o tráfico. Foi, enfim, o Parlamento inglês que logo depois declarou pirataria o tráfico de negros, e aboliu a escravatura.

Compreende-se, todavia, o efeito causado pela recordação do antigo proceder, certamente bárbaro e indesculpável, da nação inglesa. Esse efeito crescia quando se apontava o fato de se terem conduzido alguns carregamentos de negros, apresados pelos cruzadores britânicos, para a Jamaica e outras colônias, antes do processo e julgamento. O tratado de 1817, porém, declarava que cada uma das potências contratantes, Inglaterra e Portugal, empregaria como trabalhadores livres os escravos tomados pelos respectivos navios de guerra.

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