A verdade histórica é, com efeito, essa. A propaganda, porém, punha todo o empenho em obscurecê-la, e vós sabeis, meu amigo, se o conseguiu e com que fortuna. Partia-se de dous princípios, os mais próprios para excitar o zelo patriótico. Dizia-se que o desaparecimento do tráfico importava a ruína da agricultura do país, e que este era o alvo das ambições dos ingleses. Dificilmente, pois, meu amigo, poderia o governo brasileiro lutar com tantos ódios e tantos interesses. A sua impotência revelava o seu desânimo. Era em 1850. O tráfico despejava então 57.800 negros em nossas costas. O momento exigia um esforço supremo.
O proceder do governo de Sua Majestade Britânica foi, com efeito, uma consequência dos compromissos que tínhamos tomado, e cuja execução desprezamos. Apesar dos tratados e da lei de 1831, o tráfico fazia-se por uma maneira escandalosa. Entre outros fatos, citarei o seguinte. Em nota de 23 de agosto de 1836, a legação inglesa, que então o sr. Hamilton dirigia, queixava-se ao nosso mnistro de Estrangeiros da extraordinária negligência das autoridades braseleiras, apontando a circunstância de ter sido despachado pela alfândega da própria Corte um bergantim que era visivelmente negreiro. O despacho é, na verdade, curioso.
O navio, procedente de Angola, manifestara sete barricas, um caixão de alhos, 11 esteiras, 20 pipas d'água, cinco macacos e um pássaro. Entre este enorme carregamento de uma viagem transatlântica, encontrava-se um artigo dos considerados suspeitos pela convenção de 1817, a saber, a extraordinária quantidade d'água. Entretanto, o governo contentou-se apenas de sujeitar o negócio às Câmaras.
Tais fatos eram a denúncia da impotência do governo brasileiro, e estimulavam os ingleses a proceder de