Cartas do Solitário

práticas revela este importante plano do nobre ministro! Isto é que é ciência, meu amigo, isto é que é mostrar saber!

Enquanto o nobre ministro, debruçado sobre a carta do Império, imagina praticar no dorso escabroso da cordilheira marítima um caminho para o uso exclusivo das comunicações oficiais e dos agentes do governo, deixemos nós a costa, abramos as velas, e, sulcando as ondas do oceano, projetemos também uma reforma, muito mais eficaz, nas leis de navegação a bem do comércio, a bem da comodidade do povo, da barateza de todos os gêneros, do desenvolvimento geral, e das próprias rendas do Estado. Enquanto o ministro se interna pelo sertão, e prefere uma estrada quase impraticável à navegação tão fácil, enquanto se mostra assim, herdeiro dos bem-aventurados ministros do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, lembremos-lhe que estamos no século XIX, e no Novo Mundo. Agitemos em face desse governo retardado os problemas audazes de uma política verdadeiramente americana. Discutamos os princípios de uma profunda reforma econômica, sem os quais não podem prosperar as ex-colônias dos reis da Europa.

Entro na liça, meu amigo, quando os políticos palavrosos volvem e revolvem a eterna questão do governo pessoal, de que não veem modo de sair-se bem, depois que vós os atordoastes, carregando de súbito sobre suas trincheiras com a falange macedônia de um silogismo rigoroso e cruel. Fiquem eles divrtindo o público com esse brinquedo infantil de que falastes. O país ri-se da sua esterilidade e aborrece-se da sua adulação. O país quer a discussão de assuntos positivos, em que se possa ver o fundo e medir a extensão. Tratemos nós de satisfazer ao país, tanto mais porque

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