Cartas do Solitário

o tal brinquedo é uma distração aconselhada pelo governo para poder às caladas arranjar os seus projetos inconstitucionais e vergonhosos, organizando guardas de polícia nas cidades e vilas, e criando administradores municipais.

Provoquemos o governo para a discussão das questões graves, e mostremos-lhe que, se os partidos dormem, vela a imprensa. Talvez ele recue assim de suas misteriosas tentativas contra as liberdades públicas.

Creio que julgais comigo muito oportuna a ocasião para se discutir o meio de facilitar as comunicações interiores do Império, o que vale dizer o meio de tornar mais barato e mais cômodo o transporte, e de diminuir, portanto, a taxa que a circulação adiciona ao preço dos produtos. Ora, este problema tem, com efeito, assumido uma importância notável nos últimos anos, desde que uma ligeira exceção aberta nas leis do privilégio nacional da cabotagem pelo decreto de 28 de setembro de 1859, produziu resultados muito além da expectativa mais exagerada. Estudar este assunto por todas as faces, recordar a formação desse privilégio desde as fontes mais antigas da legislação portuguesa, expor o direito que tem subsistido entre nós, criticá-lo à luz de uma teoria baseada em fatos, alegando exemplos contemporâneos de outras nações, e traçando, o quadro da atualidade dessa questão no mundo, autorizar a crítica com os dados estatísticos e fatos observados em nosso próprio país, propor, finalmente, as bases de uma reforma das leis que vigoram, tal é, meu amigo, o primeiro objeto das cartas que pretendo dirigir-vos. Se minhas demonstrações forem bem acolhidas e merecerem o vosso apreço inestimável, eu levantarei mais alto a vós, e, atacando de frente um problema que inspira terror aos nossos estadistas, discutirei a

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