Cartas do Solitário

Creio no futuro, e ninguém resistira às exigências do futuro.

Não me qualifiquem de visionário, nem chamem as minhas ideias utopias. Responderei às objeções deste gênero com um período elegante de Victor Hugo no discurso tão conhecido sobre a paz universal. "Quando afirmais essas altas verdades, é natural que vossa afirmação encontre a negação, é natural que vossa fé encontre a incredulidade, é natural que, nesta hora de nossas perturbações e dilacerações, a ideia da paz universal surpreenda e choque quase como a aparição do impossível e do ideal, é natural que se grite: utopia!". E, quanto a mim, humilde e obscuro operário nesta grande obra do século XIX, aceito essa resistência dos espíritos, sem que ela me espante nem me desanime. É impossível conseguir que se não volte a face e se não fechem os olhos numa espécie de deslumbramento, quando, no meio das trevas que pesam ainda sobre nós, abris bruscamente a porta radiante do futuro?...

Vivemos num tempo rápido, vivemos na corrente de acontecimentos e de ideias mais impetuosas, que já tenha arrastado os povos, e, na época em que estamos, um ano faz muitas vezes a obra de um século."

Termino hoje com esta profissão de fé, para começar de novo amanhã.

SOLITÁRIO.

1862: fevereiro, 18.

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