Cartas do Solitário

dependam da autoridade, e o patriotismo consiste em proteger o trabalho nacional contra a concorrência estrangeira.

Daí, deste acordo invisível, mas inegável, entre governo e povo, outra série de fenômenos. Os nervos do corpo social afrouxam; a atonia é a moléstia endêmica do país; o indivíduo torna-se impotente; o geral substitui o particular; a fraqueza de baixo anima a opressão do alto; as correntes sociais descem de uma fonte única, da cabeça, do poder; o governo não é o

centro, é a circunferência; não representa, administra o país. O funcionalismo, a exageração dos impostos, a improficuidade das despesas, a imoralidade política, o desânimo, os estremecimentos vagos, as aspirações impacientes, as reformas sucessivas, eis a descendência legítima do regime dos abusos hereditários.

Confiai agora nos destinos de uma sociedade constituída sobre bases tais!

Um dia, num dia terrível e obscuro, o vento da adversidade soprara. O prejuízo, dizem, fez a ventura da paz. Invoquemos, pois, os seus preceitos para conjurar as inquietações do presente. E, portanto, em vez da liberdade que solicitáveis, aí tendes, v. g., a lei bancária, isto é, o monopólio do crédito, absurdo comercial,a legislação de 1860, isto é, a tutela organizada de todas as indústrias, absurdo social. Leis de repressão para movimentos de liberdade, isto é, um duplo crime contra o código fundamental e contra o futuro deste mísero país!

Cartas do Solitário - Página 22 - Thumb Visualização
Formato
Texto