Cartas do Solitário

uma concentração, que não estava nem podia estar no pensamento da lei, torna-se a realidade insuportável dos nossos dias.

A esse receio infantil de cada um pensar e resolver por si mesmo quanto se compreende nas suas faculdades, ajunta-se outro mal ainda mais grave, que gerou aquele e o tem alimentado, talvez.

Apontei a circunstância de ser o ministro árbitro de todas e ainda das menores questões.

É um fato das mais graves consequências.

Todos aqueles que trataram com a administração devem ter conhecido que nisso está a explicação de muitas demoras, da fraqueza das autoridades inferiores que nada fazem por si, dos embaraços à marcha do serviço e imperfeição de seus resultados. Este sistema deplorável, transmitido das secretarias do governo patriarcal de Lisboa, constitui a enfermidade mais profunda do processo administrativo.

Com efeito, enquanto se gasta o tempo inutilmente através das informações e das consultas, aumenta-se a necessidade do pessoal nas repartições a fim de satisfazer as exigências de um serviço de propósito complicado. Enquanto este sistema enfraquece ou anula a iniciativa dos funcionários e das estações subalternos, fortalece o ministro de forma que exige uma atividade excedente da medida ordinária.

Não se diga que improviso ou exagero: são constantes os exemplos do que afirmo.

Não pretendo desenvolver agora as considerações que tão importante assunto desperta. Desejo completar o quadro do processo administrativo, certo de que voltarei a esse ponto para indicar o meio, que se me afigura praticável, de realizar no centro uma reforma fértil de resultados práticos.

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