Cartas do Solitário

uma revista ligeira da parte industrial da exposição, feita com imparcialidade, convencerá do atraso e da pequena importância de nossas fábricas, não obstante os favores de que gozam.

E, por começar, tornemos um exemplo: seja o sino da fábrica dos srs. Florindo Gonçalves Coelho e Filhos, seja na rua de São Lourenço, desta Corte, n. 44, e fundada há muitos anos.

A voz argentina dos sinos desta fábrica é inquestionável; o trabalho da fundição, segundo nos informam, é habilmente dirigido. Mas, pergunto, qual o movimento desta oficin? O preço e a qualidade dos produtos podem rivalizar com os importados da Europa? Se podem, como é que não tem ela alargado o seu círculo, como se não têm fundado muitas outras do mesmo gênero, uma vez que o produtor nacional não paga as despesas de frete de uma viagem transatlântica, nem o oneroso direito de entrada, a saber, 35 %? Direi outro tanto das tesouras grandes, navalhas e vários objetos de cutelaria expostos pelo sr. Martins, desta Corte; do ferro de engomar fabricado em Campos, pelo sr. Lisboa etc. Se a aguardente e o vinagre estrangeiros não pagassem hoje direitos de consumo na razão de 55 % a primeira, 45 e 35 % o segundo; se a concorrência fosse efetiva, tornava-se mais apreciável certamente o desenvolvimento que vai tendo a produção desses líquidos. Agrada sem dúvida observar a aguardente remetida pelo sr. José Faro, fabricante tão distinto, como é agricultor progressista e ilustrado. Não se tornam dignos de menos apreço o sabão e as velas expostas na Escola Central, e fazem-se obretudo credores de elogio os produtos, da Companhia de Luz Stearica. Mas as velas e o sabão estrangeiros, aliás tão geralmente consumidos no país, pagam direitos equivalentes a 35 %. Há, por exemplo, selas e selins de vários fabricantes. Todos sabem que estes são artigos bem trabalhados no país. Favorece-os, porém, um direito de 35 % sobre o produto estrangeiro.

O que existe, pois, de admirável nesse tal ou qual progresso de algumas indústrias, que vivem à custa do sacrifício do consumidor? Aparecem, certamente, objetos bem fabricados, mas estes indicam porventura a existência de uma indústria nacional capaz de florescer e generalizar-se, ou são produtos isolados da perseverança, da inteligência da fortuna ou de circunstâncias especiais que favorecem a este ou aquele fabricante?

Os vidros em chapas, em lâminas ou em obras quaisquer pagam também 35 %. Não é este um verdadeiro prêmio lançado em favor do fabricante nacional? Duas fábricas desta Corte concorreram

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