A tese de que não podemos estudar o negro, como representante de uma cultura, mas sim considerado sob o ângulo da escravidão, é uma ideia cara a Ruediger Bilden, e que Gilberto Freyre converteu em leit-motiv nos seus ensaios sobre a influência do negro no Brasil.(3) Nota do Autor É inegável o fenômeno de que o regime da escravidão alterou as condições normais da vida cultural e social do negro. Tomando como base o regime da escravidão, Gilberto Freyre estuda todos os males da nossa formação social, examinando nos seus ensaios não as culturas negras e suas influências entre nós, mas sim as relações entre dois regimes sociais, entre dois representantes desses regimes, entre duas manifestações sociais e culturais: o patriarcalismo branco e a escravidão negra, o senhor e o escravo, a casa grande e a senzala, o sobrado e o mocambo. Destas antinomias, o autor constrói toda uma história social brasileira que podemos perguntar se é de todo o Brasil, ou se é uma generalização de um fenômeno particular da monocultura latifundiária do nordeste, com as relações estudadas em binômios sociais do tipo "senhor- escravo". Mas não é o nosso propósito entrar aqui nesta discussão.
A tese de Ruediger Bilden e de Gilberto Freyre, de que não podemos estudar povos negros no Brasil, mas sim, e exclusivamente negros escravos, é interessante e rica de resultados, mas inaceitável como generalização. Não foi, de fato, o regime da escravidão que, por si só, diluiu, esfacelou ou apagou as culturas negras no Brasil e no Novo Mundo, em geral. O regime da escravidão alterou, de fato, a sua essência, mas como fator condicionante, entre outros, de dois processos psicossociais de