Através da Bahia – excertos da obra Reise in Brasilien

não havia falta de frutos, de todas as espécies", pomos sazonados sob as bençãos do calor dos trópicos, o olhar do cientista se confundiu na sensação de deslumbramento da alma do poeta, que pairou absorta e extasiada por sobre os nossos panoramas. Martius tinha, de fato, também uma alma de poeta. Penetra as nossas selvas e rompe os nossos sertões sem esquecer a Píndaro, no original grego, ao avistar "o majestoso São Francisco". Ora fala em Shakespeare, Schiller, Racine e Calderon de La Barca, ora em Dante e Tasso, bons camaradas da sua bagagem clássica que certamente lhe mitigavam as agruras da jornada.

O Congresso Geográfico, dentre os seus fecundos resultados, teve mais este: a ele compareceu também Martius, Através da Bahia, conduzido pela inspiração do talento que o transplantou do seu monumento da língua de Goethe para o bronze da língua de Camões. E, nesse certamen científico, coroado no êxito da sua magnitude, nenhuma memória à notabilíssima obra do sábio se sobrepôs. Ninguém disse mais sobre a Bahia.

Lede esse livro atraente e em cujas páginas se sente ainda esse perfume da terra virgem do Brasil, livro cheio de interesse e que se desfolha nos mais encantadores flagrantes e instantâneos da nossa natureza e dos nossos costumes, nas duas primeiras décadas do século passado, e verificareis essa verdade.

A Bahia aí se depara luxuosa, no relevo imutável dos seus aspectos e encantos e nas condições do seu meio físico social e econômico. A natureza e o homem; o homem selvagem e o homem civilizado, geografia física e geografia humana, política e economica, eis aí, nas suas linhas gerais de observação científica, a obra de Martius. Foi como surgiu ele no atual Congresso de Geografia, coberto ainda da poeira do maciço das nossas rochas e da umidade das nossas matas.