ricamente lavrado, e lembra-me algumas das velhas igrejas de Veneza, que ostentam um estilo meio gótico, meio sarraceno. Perto da igreja fez-se ultimamente um jardim público, onde se colocaram, com grande sucesso, algumas curiosas árvores exóticas.
Vagando pela cidade, indagamos naturalmente pela capela dos crânios, cuja feiura nos havia chocado quando da primeira passagem e não ficamos tristes ao saber que este horrível monumento de mau gosto está-se arruinando rapidamente. Não posso compreender como tais fantásticos horrores puderam jamais ser abençoados, mas o fato é que o foram. O faquir indiano, que amarra um crânio verdadeiro ao pescoço, o peregrino romano que pendura um modelo de um ao seu rosário, e o frade que reveste seu oratório com mil deles, são todos movidos pela mesma superstição, ou vaidade espiritual, procurando chamar a atenção mesmo à custa de excentricidades nojentas.
Nos últimos anos a superstição tem sido usada como instrumento de não pequeno poder nas várias espécies de revoluções. Mesmo aqui teve seu lugar. Uma pequena capela dedicada a São Sebastião tinha sido mudada pelo governo português, a fim de se construir uma praça de mercado, onde se venderiam todos os artigos de consumo diário, cobrando-se uma pequena taxa dos possuidores de lojas. Esta inovação foi naturalmente desagradável ao povo. Na noite da revolução, no último mês de novembro, alguns oradores acusaram o mercado de ter sido a causa da falência dos vinhedos, pela expulsão violenta de São Sebastião, e constituir uma ameaça de ruína da ilha. O mercado, imediatamente amaldiçoado, em poucos segundos foi destruído e uma capela de São Sebastião começada. Homens, mulheres e crianças trabalharam a noite toda e as paredes se ergueram pelo menos até dois terços da altura planejada. Mas o dia trouxe o cansaço e talvez a brisa da manhã tivesse refrescado a febre do entusiasmo. Os trabalhadores voluntários não trabalharam mais, nem se levantou nenhuma subscrição para o contrato de operários. De modo que a nova igreja