Tão graves foram os acontecimentos dos três últimos anos no Brasil que se julgou melhor não interromper-lhes a narrativa com a intercalação do que se poderia chamar a história pessoal da autora enquanto foi ao Chile. Assim é que vão impressas juntas as narrativas das duas estadas no Brasil, em seguida a uma introdução contendo um esboço da História do país antes da primeira visita. Uma notícia acerca dos acontecimentos públicos no ano de ausência, serve de ligação entre as duas viagens.
O Diário de uma viagem ao Chile será tema para um volume à parte(*).Nota do Tradutor
Julgou-se conveniente separar completamente as narrativas referentes à América Espanhola e à América Portuguesa, já que nos países que as constituem são diferentes não só o clima e as produções quanto os habitantes por suas maneiras, sociedade, instituições e governo.
Não há nada mais interessante que a situação atual de toda a América do Sul. Enquanto a Europa se empenhava na grande luta da Revolução, aquela região alcançava silenciosamente uma posição em que se tornava impossível a submissão por mais tempo a um domínio estrangeiro. Foram fatos, e não leis, que abriram os portos do Atlântico Sul e do Pacífico. Foram também indivíduos, e não nações, que prestaram auxílio aos patriotas do Novo Mundo. Saíram mais armas de guerra e munições para armar os nativos contra os tiranos estrangeiros, ocultamente, dos armazéns comerciais que dos arsenais das grandes nações. A Família Real de Portugal ali se refugiou; e o país passou, assim, de colônia a sede do governo, e da condição de escravo à de um Estado soberano. Enquanto a Corte continuava a ter sede no Rio de Janeiro, os brasileiros não tinham assim motivo algum para romper com a mãe pátria. Tudo mudou, porém, desde que o rei voltou para Lisboa e desde que as Cortes, esquecendo as mudanças operadas pelas circunstâncias na mentalidade do povo, tentaram forçar o Brasil a voltar ao estado abjeto do qual se havia libertado. Irrompeu então a luta, parte da qual teve a autora oportunidade de testemunhar e a respeito da qual pôde coligir alguns dados, que poderão servir no futuro como fontes para a história. Confia ela em que, se toda a verdade não for encontrada em suas páginas, não haverá ali senão a verdade.