Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

arborizado em torno do qual se agrupam as colinas, o fumo de um dos postos avançados chamou-nos a atenção. Os soldados estavam em pé ou deitados em torno e as armas ensarilhadas. Estavam à sombra de altas árvores que ficavam atrás; entre os seus troncos os raios coados do sol poente espalhavam uma luz moderada que o próprio Salvador Rosa não desdenharia. Estes soldados, porém, limitaram-nos o passeio. Pretendíamos voltar pelo caminho do interior, mas não nos foi permitido passar por ali, já que parte dele, ao menos, estava sem vigias. Fomos assim forçados a voltar pelo caminho pelo qual viéramos.

No lugar em que a presente guarda está localizada e onde, de fato, uma forte guarda é especialmente necessária, o rio Bibiriba [Beberibe] cai no estuário que era primitivamente o porto de Olinda. Uma represa foi construída sobre ele com comportas, que estavam na ocasião abertas. Na represa há uma belíssima arcada aberta, onde os habitantes da vizinhança estavam acostumados a ir em tempos de paz à noite para comer, beber e dançar. É desta represa que toda a boa água usada no Recife é conduzida diariamente em canoas de água, que chegam sob a represa chamada Varadouro, e se enchem por meio de 23 torneiras colocadas de modo a carregar as canoas depressa, sem trabalho demais. Vimos 27 desses botinhos carregados, levados pelo rio em direção à cidade. Um único remo, que funciona mais como leme do que como remo, guia a embarcação para o meio da corrente, onde flutua em direção ao destino.

O sol já ia baixo muito antes de termos alcançado sequer o primeiro dos dois fortes em nosso caminho de volta para a cidade. Os cães já haviam começado uma tarefa abominável. Eu vi um que arrastava o braço de um negro de sob algumas polegadas de areia, que o senhor havia feito atirar sobre os seus restos. É nesta praia que a medida dos insultos dispensados aos pobres negros atinge o máximo. Quando um negro morre, seus companheiros colocam-no numa tábua, carregam-no para a praia onde abaixo do nível da preamar eles espalham um pouco de areia sobre ele. Mas a um negro novo até este sinal