e canibais. Nômades, combatiam forçados pela fome; poucas das tribos conheciam sequer o cultivo da mandioca, e menor número ainda usava qualquer espécie de vestuário, a não ser a tatuagem e as penas como ornamento. As conquistas espanholas foram mais rápidas e firmaram-se mais facilmente, pois nos países mais avançados em civilização a derrota de um exército decide a sorte de um reino; as terras, já cultivadas, e as minas, já conhecidas e exploradas, passaram imediatamente ao poder dos conquistadores.
No Brasil as terras, que foram concedidas às léguas, tiveram de ser conquistadas às polegadas às hordas de selvagens que se sucediam em inumeráveis multidões. Os hábitos migratórios tornavam natural a uma tribo ocupar imediatamente o terreno de onde havia sido expulsa a sua predecessora. As histórias dos primeiros colonizadores do Brasil não apresentam, pois, aqueles esplêndidos e cavalheirescos episódios abundantes nas crônicas dos Corteses, Pizarros e Almagros. São histórias simples, constituídas muitas vezes de cenas patéticas da vida humana, cheias de paciência, de iniciativa e de perseverança. Mas a maldade, que maculou até as melhores delas, é tanto mais odiosa quanto mais sórdida.
As próprias circunstâncias, porém, que facilitavam a fundação das colônias espanholas constituíam também motivo para acelerar-lhes a independência. A ideia e a lembrança da honra nacional e da liberdade permaneceram vivas entre os mexicanos e peruanos cultos, cujo número havia diminuído em consequência das crueldades praticadas pelos conquistadores. Mas sempre restaram bastantes para perpetuar a lembrança dos pais e manter viva a tradição das profecias anunciadas no delírio dos patriotas moribundos. Assim, quando um peruano visitava Lima, não era sem a mais viva emoção que contemplava a sala dos vice-reis onde os nichos, destinados aos retratos dos titulares, iam sendo ocupados um após outro, até completar-se o número fatal (1).Nota do Autor E muito visionário da costa peruana, ao ver o Almirante da esquadra