Assim descreve Alceu Maynard Araújo uma dessas reuniões, realizada na zona rural do município de Inhumas, no dia 18-12-1948(45) Nota do Autor:
"Quando um lavrador está com o trabalho de sua roça em atraso, um compadre ou amigo, às escondidas, combina e reúne um grupo de trabalhadores (uns cem ou mais) e, num sábado pela manhã, vai até a casa do amigo para ajudá-lo. Essa ajuda, que é tramada em sigilo e que é de fato uma surpresa para o que a recebe, chama-se traição."
"Às cinco horas da manhã, rodeiam a casa do traiçoado e os traiçoeiros dão tiros, soltam rojões, cantam, e, quando acordam a família, dão início ao trabalho. Se o atraiçoado pode fornecer comida para os traiçoêros, começa a prepará-la, caso contrário, o chefe da traição precavidamente já põe em andamento os aperparos para o almoço. É bom salientar que o chefe dos traiçoêros deu o café aos convidados em sua própria casa, ali pelas quatro horas da manhã."
"Todos trabalham nesse singular mutirão, homens, mulheres, crianças. Homens na roça, mulheres na cozinha e crianças no transporte de comida, água, lenha. Almoçam ali pelas dez horas: às 14 horas, o café, e, ao anoitecer, o jantar... e terminam com danças. Os velhos gostam e preferem as "quadrinhas' e o "catira", e os mais moços, já influenciados pelo rádio, preferem o arrasta-pés com marchas e sambas "carnavalistas". O arremate da traição, isto é, a dança, vai até o dealbar do domingo."
"É comum a traição. Muito mais comum do que o mutirão patrocinado pelo indivíduo que necessita de ajuda. Um lavrador o promove somente quando não tenha recebido tão espontânea ajuda.