Na primeira, o que necessita de ajuda para levar a cabo determinado trabalho apela com antecedência para a vizinhança. O convite é feito diretamente, mas por vezes de modo indireto: o que é convidado para o serviço geralmente convida outros que, a seu ver, podem comparecer à reunião no dia combinado.

Na segunda modalidade, a cooperação nasce do impulso instintivo de socorrer alguém que se encontra necessitado e que, por este ou aquele motivo, deixou de solicitar ajuda. É u'a manifestação do espírito fraternal do grupo, um meio talvez de reafirmar, para que não pereçam, os sentimentos solidários.

As indicações de que se dispõe permitem informar que ainda se verifica esta modalidade de ajuda em algumas zonas de Goiás, em Minas Gerais e na Bahia. Em Goiás, o auxílio espontâneo em trabalhos agrícolas tem o nome de traição. Em Minas também se diz traição. Na Bahia, é roubo e bois-roubados. O elemento surpresa contido nessa prática dispensa o beneficiado de oferecer alimentação condigna aos que participam do trabalho, de vez que não estava ele preparado para isso. No entanto, logo que é surpreendido, procura imediatamente preparar alguma coisa para oferecer-lhes, inclusive a indispensável aguardente. Há casos, porém, em que até isso é dispensado, comparecendo os vizinhos com a sua matula (Goiás) quando sabem que o estado de pobreza do que vai ser ajudado não permite oferecer-lhes comidas e bebidas.

Não é muito rara a cooperação espontânea de vizinhos em várias situações rotineiras ou mesmo imprevistas, em todas as latitudes onde ainda persistem hábitos solidaristas, mas com a destinação que tem nos Estados aludidos não nos foi possível assinalar esta modalidade noutros países. Entretanto, até que se possa conhecer toda a sua possível área geográfica, será temerário