História da alimentação no Brasil – 1º volume: cardápio indígena, dieta africana, ementa portuguesa

pelos deuses, o herói implacável cede, e recebe o resgate opimo. Convida o velho rei para cear, lembrando que Níobe, depois de ver morrer seteados por Apolo Ártemis doze filhos, pensou em comer, e comeu. E juntos, Príamo e Aquiles, servem-se do carneiro assado e da fatia de pão. Quando recebera o rei troiano, Aquiles estava mastigando uma torta e chorando a morte de Pátroclo.

Desde que nasce o homem precisa obter sua alimentação, hidratos de carbônio, gorduras, proteínas, sais, água. Deve retirar esses elementos das carnes, dos vegetais e minerais. A química orgânica encarrega-se da transformação e distribuição úteis. Há, naturalmente, uma informação clássica sobre a marcha da alimentação, informação baseada em deduções e simpatias. Começara pelos frutos e raízes sob a imitação animal. Passara à carne crua, moluscos in natura. Depois aprendera, não se sabe com quem, a assar, cozinhar, descobrindo a cerâmica, e viera, de escalão em escalão, até nossos complicados dias da ciência nutricionista.

Ninguém atina que raízes seriam essas, servidas cruas e como o homem identificara que elas possuíam teor de nutrição. Olhando o instinto irracional. E esse, como nascera?

Os frutos certamente iniciariam o cardápio embora não fossem, pelo menos no madaleniano europeu, suficientes para a manutenção física. Les fruits sauvages étant insuffisants dans nos contrées pour nourrir l'homme, decidira o velho Mortillet(1) Nota do Autor. Nenhuma verificação subsequente, nos domínios arqueológicos, desmentiu tal fato. Mais fácil, evidentemente, seria ver e colher um fruto maduro que adivinhar uma raiz comestível enterrada. A ciência de procurar e encontrar raízes exigiria uma longa capitalização experimental e ninguém discute que a técnica, ligada à paciência na obstinação pesquisadora, pertenceria ao sexo feminino, curioso e teimoso por natureza.

Não acredito no homem pré-histórico unicamente vegetariano. Sempre frutos e raízes seriam auxiliares preciosos mas não essenciais à alimentação. Nem as frutas eram suficientes e menos o homem, mesmo o infra-homem, copiaria servilmente a dieta dos animais. O coeficiente de aproveitamento nutritivo não coincide. O estado vegetariano, pelo menos com abundância de vestígios, aparece na Idade do Ferro ou pouco antes, quando era possível dispor da agricultura e

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