dos antigos. Alguns são dificilmente assimiláveis para outras áreas embora saibamos que contêm vitaminas, calorias, digeribilidade, como larvas, rãs, lagartos, ratos, entes que se alimentam com escolha meticulosa. O rato é muitíssimo mais higiênico do que a galinha. Uma larva de taquara, Myelobia amerintha, é mais substancial em gordura, cálcio, ferro, iodo que a lagosta, apesar do aspecto asqueroso para a nossa "tradição" gustativa. O nosso menu está sujeito a fronteiras intransponíveis, riscadas pelo costume de milênios. O que chamamos "cozinha internacional" é apenas uma rede comunicante de padrões alimentares equivalentes, imutáveis dentro de cada unidade demográfica e transmissíveis, constituindo novidades ao grupo adquirente.
Carne de gato, pastel de ratazana, gafanhoto torrado, larva cozida, estão fora dos nossos padrões. São, entretanto, iguarias normais e provadamente limpas e saborosas quando ingeridas sem identificação. Lery, Abbeville, Evreux, o Conde de Stradelli encontraram, há meio século, sabores no cauim carioca, maranhense e amazônico. Quando souberam que a polpa da mandioca ou do milho havia sido mastigada pelas cunhãs, entraram em náuseas. Gato por lebre, tão popular na velha Coimbra universitária? Quem comeu ratazana na Paris de 1870 ou na China, produzindo sopa maravilhosa, jamais esquece. E a gelatinosa sopa de "ninho de andorinhas"? E os besouros assados do alto Rio Negro que o bispo do Amazonas, D. Frederico Costa comeu, declarou: - Quisemos provar essa iguaria e devemos confessar que não nos pareceu ruim.(7) Nota do Autor A prestigiosa aura que envolve nossos velhos pratos usuais independe de qualquer valimento intrínseco nutritivo. Alimentamo-nos pela maquinal confiança que manteve nossos antepassados. Acreditamos, pela herança psicológica, na cozinha que dizem insuficiente e falha. Esse "crédito" na farinha seca deu a resistência dos jagunços em Canudos e dos inesgotáveis cangaceiros de Lampião. Espero que a próxima alimentação racional e positiva, fornecendo volume de calorias nos níveis necessários, faça o duplo que a farinha de mandioca, água e rapadura realizaram na História do Brasil.
O limite inicial seria, outrora, dado por um tabu religioso. O tabu dissolveu-se no costume, mas o costume é lei inderrogável. Por isso o nosso cardápio no mundo contemporâneo será bem menor que a lista do jantar do homem musteriano. Este, devendo possuir poucas limitações religiosas, restringidoras