de sua dieta, podia ser um glorioso comedor de todas as coisas organizadas biologicamente. Explica-se desta forma que a alimentação humana esteja muito mais poderosamente vinculada a fatores espirituais em exigência tradicional que aos próprios imperativos fisiológicos. Comemos não o substancial, mas o habitual, o lícito pela norma. Comemos, nós, os modernos citadinos, pela propaganda industrial irresistível.
Quando saímos do costume dizem ser uma depravação do paladar. Não será a perdiz faisandé, os queijos Roquefort e Camembert, entontecedores e elegantes, que deem confronto com o pedaço de foca deteriorado que fará as delícias do esquimó. Caberia a mesma resposta do negro do Congo Belga ao Dr. A. Cureou que lhe advertia do mau cheiro da carne podre, comida com volúpia: - Não como o cheiro... O explorador Knud Rasmussen (1878-1933) experimentou a issuangnerk esquimó, carne quase pútrida, e gostou. Fridtjof Nansen (1861-1930) preferiu a gordura fria de foca à manteiga europeia.
Não é, como parece, a carne de boi, novilha e vaca, a mais popular. Está proibida aos budistas e hindustânicos, é desprezada por milhões de negros africanos, raramente servida na Ásia e pouco apreciada na Oceania. Muito mais prestigiosos são o porco, carneiro, ovelha e anho. Exceto o primeiro, os demais são pratos essenciais no Oriente, entre muçulmanos de qualquer região. Ainda no primeiro século antes de Cristo, Varrão (116-127) no De Re Rustica, informava que a base alimentar camponesa na Itália era a carne de porco, de carneiro e de cabrito. O gado estava ligado aos serviços rurais e não à mesa. Columela (4-54 d.C) não alude à carne bovina na sua De Rustica e, sim, às aves, ovelhas, cabrito, porco. Não havia modificação essencial durante o século. Estudando a vida dos lavradores da França nos séculos XIII e XIV, G. Ducoudray (Histoire et Civilisation du Moyen Age et des Temps Modernes, Paris, 1908) escreve: - Point de viande, si ce n'est celle de porc et dans les jours de fête. Du reste même au siècle dernier, l'usage de la viande était inconnu dans les campagnes. Podia-se dizer o mesmo na Itália, Inglaterra, Espanha, Portugal. Não na Alemanha e Escandinávia, mas afirmativamente no antigo Império de todas as Rússias. E sob a égide soviética a tradição continua.
O porco mereceu proibição de Iavé (Levítico, XI, 7-8,22) e de Moamé (Alcorão, surata II,v. 168,V,v.4). Abominável no