Mocidade e Exílio (cartas inéditas)

semelhantes, socorrer os perseguidos, defender os desamparados?

Nem ao menos sei o que aí se passa, que caminho levam os acontecimentos no Rio, onde estás, se aí, se em S. Paulo... nada! O telégrafo está interrompido, vejo‑me, sem remédio, condenado a esta incomunicabilidade, que é, para mim, mais uma agonia mortal. Como estarás? E nossos filhinhos ? E nossa casa ? E os interesses de minha vida, aquilo que te confiei, que recomendei tanto aos teus cuidados e que representa o total dos nossos recursos neste mundo ? Tenho sonhos terríveis. Passo por alucinações. Vejo desastres em nossos filhos, doenças em ti e neles. Tudo me parece, às vezes, irremediável, perdido. As noites são me de insônia, os dias são intermináveis. Não leio, não faço nada. Já quatorze dias de separação. Quem me amparará, meu Deus ?

E que separação! Nem ao menos um momento de despedida. Eu tinha suplicado que me deixassem, na passagem, saltar um momento na rua dos Inválidos, para te abraçar, e morrer depois, se preciso fosse. Acharam impossível essa concessão. Tiveram razão talvez. Eu talvez não tivesse mais forças de deixar-te.

Seguimos até a casa onde tinha de asilar-me (1)Nota do Prefaciador, e onde nos foram encontrar os nossos dois bons amigos, por quem te mandei os meus últimos recados.