Mocidade e Exílio (cartas inéditas)

nem para a mantença da família, ou, sequer, minha.

Desta maneira, toda a minha vida, toda a minha profissão por assim dizer, de ora em diante, o meu futuro, tudo vem a cifrar-se em trabalhar para extinguir interminavelmente gota a gota, com um suor de sangue, esta dívida acabrunhadora. Nem a minha carreira natural, a advocacia, me será mais lícito exercitar; e verdadeiro ganhador, servo, escravo dos credores, nada mais me resta esperar que algum desdouro público, certo, sem dúvida nenhuma, e provavelmente não remoto.

Em circunstâncias tais o conselho dos meus mais experientes e melhores amigos é que eu deixe por algum tempo a minha província, para procurar noutra, na Corte, meios, ao menos, de saldar o meu débito, e assim habilitar-me a poder, neste mundo, ser útil em alguma coisa. Falam-me na grandeza desse outro teatro; nos exemplos de tantos, enjeitados, como eu, na sua terra, e que tanta prosperidade tem obtido aí; em certo nome que eu sei ter aí entre pessoas valiosas para auxiliar-me; na urgência, enfim, imperiosa, indeclinável, de, seja como for, deixar eu quanto antes esta situação, que, a continuar deste modo, não tem horizonte possível.

À vista disto estou deliberado a aceitar o plano, sobre o qual peço também o seu parecer.