Língua brasileira

se começou a delinear nos primeiros anos da Independência e se veio pelo tempo afora avolumando nas obras de alguns dos nossos maiores espíritos, em diametral oposição às lições dos que sempre timbraram em manter e consagrar o primado da língua portuguesa, esforçando-se por sufocar nas páginas dos seus compêndios e trabalhos a vida do idioma que aqui se formou ao contato da nossa natureza, dos nossos costumes, das atividades das nossas populações, dos nossos sentimentos, ao sopro da nossa própria alma.

Não podíamos, entretanto, limitar a esse aspecto o nosso estudo, e força era fazê-lo também através de outros prismas.

Discutimos o idioma brasileiro à luz da ciência da linguagem. Com os seus critérios, as suas leis, os seus valores.

Fomos obrigados a fazer a revisão de alguns conceitos e pontos de vista, os quais, de há muito, sofreram profunda modificação, graças às indagações de notáveis pesquisadores, e, no entanto, continuaram a inspirar as doutrinas dos nossos filólogos e gramáticos e, infelizmente, formam o arcabouço do ensino da língua em nossa terra.

Empreendemos assim o indispensável ajustamento desses conceitos ao seu atual conteúdo. Aplicamos a esses pontos de vista a crítica dos mestres.

Entre nós, sistematicamente, não se tem dado às verdades da linguística, da gramática e da filologia contemporâneas o devido valor.

Procuramos pôr em relevo essas cousas sabidas de todos, mas, ao cabo das contas, sempre esquecidas. São elas, no entanto, que devem balizar a investigação. Elas é que apontam as condições em que se podem ver na sua verdadeira natureza os conceitos de dialeto e de língua, a história da língua portuguesa, a escrita e a vernaculidade dos clássicos lusitanos, a escrita da arte, a língua brasileira.

Cotejamos as noções, as teorias, os factos da nossa realidade linguística, com as opiniões daqueles que negam ao nosso idioma individualidade, autonomia, e insistem em impôr-nos as normas da gramática portuguesa.

Mostramos, nas suas mais ásperas arestas, quanto de incoerência se tem perpetrado nos trabalhos dos nossos clássicos

Língua brasileira - Página 23 - Thumb Visualização
Formato
Texto