Consoante a lição da filologia, nos velhos textos portugueses verifica-se o asserto de que as línguas românicas, na sua sintaxe, muitas vezes se inspiraram mais no alemão e no grego modernos do que no latim antigo (2)Nota do Autor.
Com grande dificuldade poderão os puristas conciliar o seu ideal com uma língua que ao nascer era "um resumo, ou compêndio de várias línguas, adotando uns vocábulos, antiquando outros, e fazendo próprias muitas vozes, e frases de Gentes, talvez mais diversas no Idioma, que distantes no Clima". (3)Nota do Autor Língua que a ouvidos espanhóis já soava nos seus primeiros tempos como latim com mescla de francês (4)Nota do Autor.
Se aplicarmos aos escritores do século XVI os critérios hoje em voga entre os nossos puristas, foram os clássicos os grandes corruptores do idioma vernáculo. Criaram a mãos cheias neologismos transplantados do latim erudito, e alatinaram artificialmente a própria sintaxe. (5)Nota do Autor
Para os nossos clássicos e puristas, para os que combatem o neologismo, "as inovações injustificadas"; para os que entendem que os neologismos desnecessários corrompem a vernaculidade, a pureza da língua, não há no idioma português maiores corruptores que os clássicos. Por obra deles foram criados, em barda, vocábulos eruditos para exprimir a mesma cousa que as palavras de formação popular. O léxico foi invadido pela praga do cultismo. E palavras que nunca haviam passado pela boca do povo entraram em profusão no vocabulário da literatura. A sintaxe foi artificialmente imitada do latim literário. Substituíram a ordem direta que lhe era nativa, pela ordem indireta copiada dos livros dos Cíceros e Virgílios.
Fascinados pelo espírito do Renascimento, e na ignorância de como se formara a língua portuguesa, cuidaram, erradamente,