isolamento passa nas fronteiras dos Pirineus. Não se opõem os cultores da soi-disant escrita vernácula, aos espanholismos, aos italianismos, etc. E houve até, dos maiores clássicos portugueses no século XIX, quem achasse que esses últimos eram legítimos porque, no seu entender, os italianos eram mais vizinhos "do pé da porta" que os franceses!
A verdade é que há uma grande ingratidão nessa ojeriza seródia à língua da França. A ela muito deve a arte literária, a poesia e a própria língua portuguesa. Basta pensar na influência da poesia provençal no romance das canções. Foram os trobadours que ensinaram a Península a cantar. Foi a língua da Provença que deu ao idioma falado em Portugal a doçura e a sonoridade. A música dos versos do sul da França encheu a linguagem de beleza e melodia, e iniciou a palavra portuguesa na expressão literária dos mais delicados sentimentos da alma humana.
Mas em se tratando da pureza da linguagem, disse um grande sabedor dessas cousas, entre nós, tanto faz latinismos como galicismos. Tudo é estranho e alheio (7)Nota do Autor.
Essa obssessão de purismo, esse "purismo inquisitorial", que ficou nas letras vernáculas portuguesas como "herança do latim fradesco", já são considerados em Portugal "uma especialidade quase lusitana". Contra eles reagem grandes escritores. E aquele a quem chamaram "o mais opulento dos clássicos portugueses" justificou que se escrevesse à francesa, em desacordo com a "velha legislação da linguística extremadamente lusa dos Souzas, e Bernardes, e Filintos" (8)Nota do Autor.
A lição dos puristas é contrária à ordem natural das cousas. A questão de pureza idiomática não pode harmonizar-se com a universalidade do pensamento, as condições da vida entre os povos; não se concilia com a civilização cujos valores se propagam intensamente por toda parte.