Nesse famoso período áureo, a língua portuguesa não havia ainda adquirido as qualidades necessárias para ser utilizada como instrumento dos grandes temas da inteligência especulativa.
O século XVI, considerado entre nós, ainda hoje, pelos nossos clássicos, "a idade de ouro" da língua e das letras portuguesas, deixou, há muito, de ter em Portugal, nas melhores páginas da crítica, esse esplendor. O mais ilustre dos críticos portugueses, entre os contemporâneos, fulmina, com grande senso literário, essa desarrazoada admiração, qualificando o século XVI na literatura lusitana de "abortado e infecundo" (9)Nota do Autor.
Nós, porém, mais realistas do que o rei, continuamos a insistir no chavão já desprestigiado!
As nossas questões de linguagem têm sido estudadas a uma luz imprópria. Pelos vidros deformantes da gramática portuguesa é que habitualmente se tem considerado a língua brasileira. Em hipótese alguma pode caber, no caso, a palavra a uma disciplina normativa. Mas é dessa maneira inadequada, destituída de qualquer valor, do ponto de vista da ciência, que os nossos gramáticos estudam a matéria.
São os gramáticos os mais arraigados em fazer vigorar entre nós o idioma português. São eles os maiores responsáveis pelo descaso em que ficaram mergulhados e perdidos, entre as cousas inúteis, os fatos da nossa linguagem.
Copiam servilmente a gramática portuguesa. Repetem, com ênfase e imensa vaidade, as regras e regrinhas das gramáticas de Portugal. Forçam o nosso idioma nos moldes da escrita clássica dos séculos XVI e XVII. Contam os nossos expressivos modos de dizer, como erros, nódoas e cincas, no "donairoso idioma". Sufocam todas as nossas formas originais no garrote dos exemplos clássicos. Anatematizam, flagelam,