Língua brasileira

excruciam, na sua famigerada "boa linguagem", despedaçam, na estrapada vernácula do idioma português, todas as manifestações da nossa sensibilidade, do nosso ouvido, em cousas da nossa mais genuína maneira de falar, de nos exprimirmos brasileiramente. São os nossos gramáticos os grandes culpados da escravidão, sob o peso de cujas cadeias têm vivido, num arfar de peito opresso, as grandes energias criadoras do nosso gênio linguístico. São eles que têm desprezado a pujança da língua popular, que irrompe, forte, viva, numa caudal maravilhosa, cheia de naturalidade, de riquezas idiomáticas, que alargam o vocabulário, transformam a sintaxe, e exprimem, na sua brasilidade, a feição do nosso modo de pensar e de sentir.

A gramática, tal como entre nós se tem praticado, apresenta aos olhos do observador um quadro de incoerências. As ideias estão em violento conflito com os factos. As páginas dos compêndios formulam regras na mais flagrante violação dos princípios, conceitos e definições adotados ao assentar das bases. As noções mais elementares da lógica encontram na exposição dos seus capítulos uma verdadeira câmara de tortura.

Quanto à estrutura lógica das nossas gramáticas, basta-nos reproduzir o reparo de um dos nossos mais doutos mestres: "Os nossos gramáticos depois de assentarem que registram factos criam regras inflexíveis" (10)Nota do Autor.

O estudo da língua, tal como é tradicionalmente feito entre nós, é também sempre incompleto. A vida da linguagem não é encarada em alguns dos seus aspectos principais. É o estudo do idioma pela metade. As nossas gramáticas cuidam unicamente da língua na sua feição discursiva. É a velha e insuficiente concepção nascida nos capítulos da lógica formal.

Com exceção de bons escritores, em páginas muito recentes, os trabalhos que há mais de 30 anos renovaram

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