Língua brasileira

linguistas atuais a estudam como homens de ciência, observadores imparciais, naturalistas que dissecam, analisam e pesquisam as causas. Todo fenômeno tem a sua razão de ser e merece, tanto quanto os outros, ser estudado: não se trata nem de louvar nem de censurar factos, mas determinar as condições nas quais eles se produzem.

Arsène Darmesteter, que professava essa opinião, deduzia dessas premissas as conclusões extremas. Estimava que, para um natural, não há locução viciosa, e que um parisiense de Paris, de pais parisienses, qualquer que seja a esfera social a que pertença, fala francês por definição: o francês não existe senão porque ele o fala e tal qual o fala. Um dos seus amigos lhe perguntava certa vez se tal palavra, que usualmente empregava, era francesa:

- De que província é você?, perguntou-lhe Darmesteter.

- Da Ilha de França.

- Então a palavra é seguramente francesa.

"O gramático que quer corrigir a linguagem de um francês de Paris assemelha-se muito ao psicólogo que declara a uma pessoa que está experimentando uma sensação agradável, que esta sensação é dolorosa, e se esforça por demonstrar-lho.

Sem ir tão longe, é indubitável que todos os fenômenos linguísticos têm a sua razão de ser, e que as locuções chamadas de viciosas se formaram pelos mesmos processos da língua clássica".(12)Nota do Autor

E adiante, discutindo o conceito de progresso nas línguas do ponto de vista de linguística, escreve:

"Posta de lado toda questão literária, os linguistas dão à língua falada primazia sobre a língua escrita, que não é outra cousa senão a expressão, a transcrição mais ou menos imperfeita da primeira. São auditivos. Os literatos, ao contrário, são e se tornam cada vez mais visuais em virtude de não haverem recebido educação linguística".(13)Nota do Autor

Já VAUGELAS, tão zeloso da ordem e da disciplina da língua francesa no século XVII, tinha na mais alta conta a

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