inteiramente o estudo dos idiomas permanecem inteiramente ignorados ou desprezados dos nossos especialistas.
Queremo-nos referir ao estudo desse "aspecto da vida psíquica que os linguistas têm geralmente desconhecido": o "aspecto emocional ou afetivo", que tão intensamente se manifesta nos idiomas; o "valor afetivo dos factos de linguagem organizada e a ação recíproca dos factos expressivos que concorrem para formar o sistema dos meios de expressão de uma língua".
Houvéssemos nós já aplicado esses critérios, e de há muito haveriam os nossos gramáticos percebido claramente a existência de uma língua brasileira. Mas essa falha - acompanhada dos preconceitos da ortodoxia clássica do quinhentismo e do seiscentismo, e da submissão aos recta-pronúncias portugueses, a mandarem pela mala do correio as formas lídimas da língua que deve ser falada entre nós - tem impedido que os gramáticos brasileiros escrevam uma gramática brasileira.
Outro ponto que analisamos nestas páginas é o da "superstição visual", isto é, o erro de considerar-se como a legítima expressão da língua, a língua escrita, ou mais rigorosamente, a língua literária (hoje ninguém mais as confunde). Só através dela, e o que é pior, tal como a escreveram e a escrevem os portugueses e os seus imitadores, têm os nossos gramáticos estudado o idioma. Acrescente-se ainda o facto de que essa língua de papel carbono é no Brasil puramente artificial. Não a fala o povo, nem os que a escrevem a força de canseiras e vigílias sobre as páginas quinhentistas.
Mas do infrutífero trabalho dos nossos gramáticos, subordinando a nossa linguagem aos cânones da gramática portuguesa, temos a prova no idioma que aqui vige e vive, formado da evolução em nossa terra da língua dos colonizadores, sob as influências do tupi e dos dialetos africanos que para cá vieram com os escravos, idioma que todos falamos, em desacordo com as gramáticas feitas à portuguesa, e muito diverso do idioma que hoje se fala em Portugal.