Língua brasileira

linguística, COMO SE DEVESSEM EXISTIR PARA O GRAMÁTICO!

"A verdade é que a gramática ainda está totalmente presa à tradição escolástica, e há muita gente culta que imagina não ser possível estudar a sintaxe senão na língua escrita; pretender que as particularidades da língua falada se resumem em solecismos e barbarismos, é uma ideia que já teve a sua época; entretanto, a maior parte das pessoas, entre as mais cultivadas, não duvida que, sem deixar de falar francês, muda de gramática conforme escreve ou fala; a cousa é tão inconsciente que negam a sua existência. Mas olhando de mais perto, ver-se-á- que não há uma só parte essencial do sistema gramatical que não sofra a ação desta transformação.

Trata-se, como se sabe, de uma espécie de "déclenchement" produzido pela adaptação ao meio.

"Observando estas cousas, ver-se-á enfim que os processos próprios à expressão falada acabam quase sempre emprestados ou imitados pela língua escrita, e que em definitivo esta famosa gramática "escrita" não se explica cientificamente senão pelo estudo da gramática "falada".(17)Nota do Autor

Da importância da língua falada escreveu outro luminar da ciência da linguagem:

"As inovações mais importantes na história das línguas", diz JESPERSEN, "foram criadas por pessoas humildes, que não só falam em prosa sem o saber, mas também podem até, alguma vez, criar qualquer cousa que não existiu nunca na sua língua.

É mister precaver-se contra a superstição dos grandes homens e dos grandes autores. Julga-se muitas vezes que a língua é, senão criada pelos grandes autores, pelo menos influenciada consideravelmente por eles, quando a verdade parece ser que os grandes gênios podem aqui ou ali criar uma palavra especial na ciência ou dar a uma frase formada segundo as leis ordinárias da língua uma significação especial ou um cunho que será adotado e conservado pela comunidade,

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