Língua brasileira

2) quando esta designação dá imediatamente, a qualquer membro do grupo linguístico, a impressão de que "isto se diz assim, deve-se dizer assim, sempre se disse assim e dir-se-á sempre assim". Esta crença é, sem dúvida, pura ilusão, pois que é desmentida pela evolução constante da linguagem; mas, pelo seu valor subjetivo, é uma realidade absoluta, sem a qual a consciência de um estado de linguagem não seria possível. O conjunto dos meios de expressão que tem esse caráter uniforme no espírito de todos os indivíduos, eis o que é para nós a língua usual".(19)Nota do Autor

E analisando esse conjunto, aponta os elementos de cuja ação deriva essa uniformidade: as "formas constantes da vida", isto é, "as condições da vida a que nenhum indivíduo escapa, desde que o homem é homem" e que "representam" "a trama de uma vida humana", onde se vê "apagar-se num segundo plano nebuloso todas as particularidades das vidas individuais".

As necessidades, de toda ordem, biológicas, psicológicas e sociais, que cada dia se nos apresentam, de modo geral, semelhantemente para todos "do berço ao túmulo", nivelam a vida e com ela a linguagem do grupo, pela necessidade invencível de comunicarmos com os nossos semelhantes, de modo que nos façamos entender e que entendamos os demais.

É à expressão desta mentalidade geral de um grupo linguístico que Bally chama "língua comum, expressão usual", sendo, pois, a língua comum "o conjunto dos factos de linguagem que, em dada língua, exprimem as manifestações constantes da vida de um grupo linguístico. Todas as formas de linguagem que exprimem aspectos mais particulares da vida, da atividade e do pensamento, não só ficam subordinadas a este fundo comum, mas dele recebem, por contraste, o seu caráter próprio.

"Diz-se muitas vezes", escreve Bally, "que a vida é cambiante, diversa, esquiva nas suas variedades; é questão de perspectiva; nos traços fundamentais, é una, imutável e

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