Língua brasileira

fatal. Para nos convencermos disto, bastaria concentrar o espírito em algumas das condições, às quais não tem escapado a vida de qualquer indivíduo, desde que o homem é homem, e pensar que são apenas espécimens isolados de um formidável conjunto; se procurarmos então avaliar, na imaginação, o que todos estes fatores reunidos representam para a formação, o argamassar de uma vida humana, veremos esvanecer-se num fundo nebuloso todas as particularidades das vidas individuais. Estas particularidades, cada qual de nós as vê, é certo, através de um prisma de aumento, porque o egoísmo, fruto natural de nossas necessidades e os desejos que nos devoram, nos habituam a referir tudo a nós mesmos. Quanto a estas formas comuns da vida, basta assinalar algumas para fazer entrevê-las todas.

Que se pense no nosso corpo e nos seus órgãos; nossa existência depende da sua conservação; o seu funcionamento cria necessidades múltiplas, sem cessar renascentes; precisam cada dia, muitas vezes, a cada hora e a cada segundo, movimentos, atos cuja ausência, até momentânea, pode matar-nos; é preciso comer, beber, respirar, etc.; há doenças, enfermidades; nosso pensamento, mal a seu grado, é afligido amiúde por estas necessidades e estas misérias.

A vida segue uma evolução cujas fases são determinadas desde o berço ao túmulo; prevemo-las com alegria ou com terror, verificamo-las nos outros; cada qual delas marca com sinais indeléveis o nosso corpo, a nossa inteligência, a nossa sensibilidade. Nosso espírito, apesar das variedades individuais, tem traços essenciais e imutáveis, e também as mesmas incapacidades, as mesmas fraquezas. Somos tributários da natureza que nos rodeia, é preciso levá-la em conta a cada minuto para que ela não nos esmague debaixo das suas forças cegas; esta natureza é regida por leis inflexíveis e implacáveis; os inumeráveis fenômenos, de que é teatro, têm uma regularidade, uma periodicidade absolutas, e cada fenômeno destes tem sua repercussão em nós, criando necessidades, provocando sensações e sentimentos cuja essência é sempre a mesma; que se pense tão só na massa enorme de associações forçadas que suscita em nós a sucessão das estações.

Língua brasileira - Página 354 - Thumb Visualização
Formato
Texto