Língua brasileira

Acaba-se por esquecer que aprendemos a falar antes de aprender a escrever, e a relação natural é invertida.

Enfim, quando há desacordo entre a língua e a ortografia, o debate é sempre difícil de resolver por outrem que não o linguista; mas como este não tem voz em capítulo, a forma escrita tem quase sempre a predominância porque toda solução que nela se apoia é mais fácil; a escrita se arroga por conta própria uma importância a que não tem direito".(28)Nota do Autor

Esta lição de SAUSSURE acerca da representação da língua pela escrita, essa análise das causas da sua ascendência sobre a forma falada, tem inteira aplicação às relações entre a língua falada e a língua literária. Esta, em virtude do prestígio material do elemento gráfico, dá também a ilusão de ser a forma principal de um idioma. Mas do que acabamos de ver ressalta, claramente, o engano dos que supõem caber à língua escrita, e sobretudo a literária, a supremacia nas línguas. Para o espírito do linguista não é a língua escrita, e muito menos a literária, que constituem o objeto da sua ciência. Somente uma velha e teimosa ilusão tem levado certos espíritos a pensar que a palavra escrita é de maior importância do que a palavra falada.

Do mesmo modo laboram em grave erro os que acreditam estar na escrita e na língua literária a fixação do idioma. Factos e exemplos atestam que essa fixação se faz independentemente da escrita.

Por outro lado, vemos que as línguas têm uma tradição oral, e que unicamente o indevido prestígio da escrita constitui o principal obstáculo para que essa tradição seja considerada no seu grande e real valor.

Ao tratar dos caracteres gerais da língua literária, salientou CHARLES BALLY que ela é produto de criações e de modificações individuais da língua corrente.

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