Língua brasileira

O idioma literário não é, assim, uma criação da língua coletiva que se forma e estrutura inconscientemente. As suas criações resultam da ação voluntária do escritor. Nos seus modos de dizer e exprimir há todo um trabalho da consciência individual. E esta é uma das razões por que não tem na linguística a língua literária o valor da língua falada.

Extremando a língua literária da terminologia técnica, que também, por sua vez, é criação do indivíduo, distingue ainda BALLY a primeira da segunda, porque esta modifica a língua corrente, social, para torná-la mais intelectual e mais impessoal, e a língua literária a transpõe para acomodá-la a uma forma de pensamento essencialmente pessoal, afetiva e estética.

Uma e outra não encontram na língua comum senão um material imperfeito.

Ainda que o escritor seja um idealista ou um pintor fiel da realidade, a expressão antêntica da língua corrente não lhe servirá inteiramente. Uma obra literária pode dar a ilusão de que reflete a realidade mais imediata, e um estilo pode, na aparência, confundir-se com a língua de todos, mas ambos os modos diferirão sempre, tanto pelo princípio, como pela intenção; enquanto a língua literária for o que ela quer ser, uma transposição da realidade, haverá uma língua literária distinta da língua usual.

Esta diferença, que muitas vezes salta aos olhos e noutras muitas escapa quase inteiramente, não pode ser fixada pelos métodos incertos que a crítica literária aplica aos processos de expressão".(29)Nota do Autor

"Depois de tudo isto, podemos perguntar", diz BALLY "qual é o papel da expressão literária no estudo de uma língua, principalmente de uma língua estrangeira. Ninguém contestará a importância da cultura literária, e é precisamente por isso que desejamos vê-la num lugar onde ela adquiriria

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