por assim dizer, em que a língua envolve um uso mais extenso".(4)Nota do Autor
FERDINAND DE SAUSSURE, um dos mais altos expoentes da linguística contemporânea, não extrema cientificamente o conceito de língua do conceito de dialeto. A entidade linguística é o dialeto que, em virtude de várias causas ou condições, passa a ser considerado língua. As razões de tal denominação são sempre de natureza estranha aos fenômenos linguísticos.(*) A adoção do dialeto como idioma oficial do Estado tem sempre grande importância no caso. Em página anterior, ao discutir o conceito de dialeto, tivemos ocasião de observar que, no entender de Saussure, as diferenças entre os dialetos e as línguas, em certos casos, se reduzem a diferenças de quantidade e nunca de natureza.
"Entregue a si mesma", diz ele, "a língua só conhece dialetos dos quais nenhum usurpa os outros, e por aí está ela destinada a um fracionamento indefinido. Mas como a civilização, desenvolvendo-se, multiplica as comunicações, escolhe-se, por uma espécie de convenção, tácita, um dos dialetos existentes para fazer dele o veículo de tudo o que interessa à nação no seu conjunto. São diversos os motivos dessa escolha: ora se dá a preferência ao dialeto da região onde a civilização é mais adiantada, ora ao da província que tem a hegemonia política, e onde tem sede o poder central; ora é uma corte que impôs o seu falar à nação.
Uma vez promovido à condição de língua oficial e comum, o dialeto privilegiado permanece raramente tal como dantes. Misturam-se-lhe elementos dialetais de outras regiões, torna-se cada vez mais composto, sem perder, entretanto, inteiramente o seu caráter original: assim, no francês literário reconhece-se bem o dialeto da Ilha de França, e o toscano no italiano comum".