"De todos esses dialetos, ou, se quiserem, de todos esses patois, qual foi o que devia ter a fortuna de tornar-se a língua das letras e, por conseguinte, a língua comum do país? Isto dependeu evidentemente dos acontecimentos políticos. Foi a usurpação de Hugo Capeto que decidiu; ela fixou a cabeça do sistema feudal em Paris. Enquanto este sistema esteve em pleno vigor e a realeza não teve, sobre outros vassalos, tão poderosos quanto ela, outra prerrogativa senão a de receber deles fidelidade e homenagem, as línguas d'oe e d'oil floresceram com os seus dialetos; e se, nos séculos 11 e 12, alguém tivesse anunciado aos trovadores que se aproximava o momento em que o seu brilhante idioma perderia, no seu próprio país, a primazia, quem teria acreditado em profecias tão pouco verossímeis? Entretanto foi assim; crescente a unidade real, a diversidade provincial diminuiu, e pouco a pouco o falar da Ilha de França, de Paris e de um raio mais ou menos extenso, prevaleceu. Mas esse dialeto da língua d'oil, tornando-se língua geral, e expondo-se assim a toda sorte de contatos, fez empréstimos multiplicados a todos os seus vizinhos, ou melhor, recebeu empréstimos que não estão de acordo com a sua analogia própria, e é o que os torna reconhecíveis ainda hoje".

E no "Complemento do Prefácio" do seu grande dicionário(11)Nota do Autor, ao explicar a natureza dos dialetos franceses e dos patuás, mostrando que eles "têm uma comunidade fundamental", escreveu também Littré:

"Há dialetos enquanto subsistem os grandes feudos; há patois quando a unidade monárquica absorve esses centros locais". De maneira que a causa da formação dos patois não é de natureza linguística, mas política. A centralização do poder político, na unidade da monarquia, é a causa da existência do conceito de patois. Patois é o dialeto de um feudo que desapareceu. É, por consequência, um simples efeito da evolução política da França. Na França feudal o idioma de um feudo era dialeto, no regime político que sucede ao feudalismo na França, o mesmo dialeto do feudo é um