patois. Não há no caso nenhum fenômeno de natureza linguística. Tudo é obra da vida política da nação.
E a razão foi a seguinte:
"Perecendo nos começos da Idade Média o poder nas mãos dos carlovíngios e a suserania substituindo a soberania, acontece que as províncias se constituíram com chefes hereditários que lhes eram próprios, a Ilha de França, a Normandia, a Borgonha, a Champanha, a Viromandia e o resto. Quando a realeza mudou de mãos, o rei de França tinha por vassalos todos esses chefes que lhe deviam fidelidade e homenagem, nada mais; quanto às suas possessões diretas, era ele apenas um senhor.
Assim, grandes províncias se haviam constituído com inteira independência, salvo o laço feudal."(12)Nota do Autor
Que se passou então de referência à linguagem? O idioma de cada feudo tinha completa independência em relação aos outros e ao idioma da própria sede do poder real. E por esta razão eram todos dialetos. Não havia ainda uma língua, isto é, um idioma nacional. Todos os dialetos valiam o mesmo. Os documentos oficiais de cada feudo eram escritos no idioma da localidade.
No fim do século XIV, porém, o poder monárquico adquiriu a supremacia; as províncias já haviam perdido muito do seu caráter feudal. "Paris se torna uma capital e, simultaneamente, se estabelece uma língua comum, empregada por todos que escrevem, qualquer que seja a localidade a que pertençam. É nesse momento que os dialetos deixam de existir em França; substituem-nos os patois".(13)Nota do Autor
Essa página de Littré mostra-nos, com a nitidez de um filme em câmara lenta, a natureza política da criação da língua nacional francesa.
É por efeito exclusivo do curso da história política da França que um dialeto, o da Ilha de França, adquire os foros de língua nacional. Não concorre para esse acontecimento nenhum facto de natureza estranha à política.