"No dia 24 deste mês Sua Majestade falou-me a respeito da situação política. 'Bem', disse o rei, 'tive notícias de Lisboa hoje de manhã.'
O enviado: — Espero que as notícias sejam do agrado de V. M.
O rei: — Tudo está na mesma. O chefe do governo, que não consegue manter-se na posição, escreve-me da maneira mais respeitosa. Conheço-o e quis fazer dele protetor de Lisboa, mas ele não aceitou. No entanto, quando se tratou de fazê-lo líder popular apareceu, e não se fez de rogado. Seu Imperador nada me disse a respeito. Não me deu nenhum aviso.
O enviado: — A situação aqui não o permitiu. Eu estava para partir de Gibraltar quando as primeiras notícias da revolução portuguesa chegaram. Mas não posso duvidar das boas intenções de S. M. o Imperador da Áustria. O que aconteceu em Portugal deve-lhe ter causado tanta tristeza quanto a V. M. Sabe V. M. o vivo interesse que o Imperador alimenta em tudo que se refere a V. M. Ele será sempre o mesmo. Poderia ele, na qualidade de membro da Confederação Europeia, ser indiferente a tais acontecimentos?
O rei: — Eis as más consequências das ideias liberais e democráticas.
O enviado: — É uma epidemia que grassa em toda a Europa e que passará como qualquer outra.
O rei: — Espero que não domine a Áustria.
O enviado: — Os súditos italianos atingiram-nos de perto.
O rei (com ar de satisfação): — O seu exército está em caminho e os soberanos estão reunidos em Troppau. Espero que façam alguma coisa em meu favor.
O enviado: — Infelizmente a distância é tão grande que V. M. será forçado a tomar uma decisão antes de saber o resultado da deliberação deles. A volta do Príncipe Real a Portugal será certamente causa de aborrecimentos a V. M., mas creio que V. M. não poderá adiá-la.
O rei (após um momento de reflexão em que suspirou profundamente): — Oh, sim, e muito. (Esta resposta exige uma explicação. Sua Majestade só relutantemente separar-se-á de seu filho, porque tem medo dele e não confia nele. D. João deseja que o filho permaneça junto a ele, mas este sentimento não é ditado pelo amor paterno.)
O enviado: — Meu amo, o Imperador, sempre julgou que esse passo seria do maior interesse de V. M., e se não reiterou este conselho é porque temeu que V. M. o atribuísse ao desejo de ver sua filha de volta à Europa.
O rei: — As ideias liberais devem ser exterminadas.
O enviado: — Não deviam ter tido permissão para nascer, mas no ponto em que chegaram as coisas, antevejo com tristeza que V. M. será forçado a capitular... Parece-me até que cada dia que se perde nesse assunto é uma infelicidade para V. M.
O rei (suspirando): — A Inglaterra insiste por que eu me resolva.
O enviado: — Não creio que lhe possa dar melhor conselho, e mais conveniente aos seus legítimos interesses. O perigo no Brasil não é menos grave do que em Portugal,