pouco de influência na educação deles. Nada desperta mais a atenção do estrangeiro que esta ausência de livros nas casas brasileiras. Se o pai que exerce uma profissão liberal, tem uma pequena biblioteca de tratados de medicina ou direito, mas não se veem os livros espalhados na casa como objetos de um uso constante; não fazem parte das cousas de necessidade corrente. Repito que há exceçães; assim me recordo de ter encontrado, no apartamento de uma moça, cuja familia nos dera uma afetuosa hospitalidade, em uma biblioteca bem escolhida as melhores obras de história e de literatura francesa e alemã; foi, porém, o único exemplo no gênero, durante um ano de estadia no Brasil. Embora recebam os benefícios de instrução, há na existência doméstica das brasileiras tanto constrangimento, elas estão tão raras vezes em relação com o mundo exterior, que só isso basta para pôr um obstáculo ao seu desenvolvimento intelectual; os seus prazeres são mesquinhos e tão raros como os seus meios de instrução.
Exprimindo estas duras verdades, sou eco de um grande número de brasileiros inteligentes que deploram este estado de cousas, mau e perigoso, e sem saber como reformá-lo... Nas pequenas cidades do norte e do interior, as mulheres têm uma existência horrivelmente monótona, privada de alegrias sãs onde se renovam as forças; um sofrimento passivo entretido mais ainda pela falta absoluta de distraçães, que por males positivos, o que não é menos deplorável; um estado de estagnação e de inércia completa.
"Além dos vícios dos métodos de instrução, há ainda uma ausência de educação doméstica profundamente entristecedora; é consequência do contato incessante com os domésticos negros e mais ainda dos negrinhos, dos quais há sempre quantidade nas casas. Que a baixeza habitual e os vícios dos negros sejam ou não o efeito da escravidão, não é menos inegável que eles existem; e é estranho ver indivíduos, aliás cuidadosos e escrupulosos em relação aos seus filhos, deixá-los constantemente na companhia de seus escravos, vigiados pelos mais velhos e brincando com os mais novos. Na capital do Império estes perigos são já menores, pois todos os que conheceram o Rio de Janeiro há 40 anos se acordam em proclamar que uma melhoria das mais notáveis se produziu nos costumes sociais. Devo confessar que a mais alta autoridade (Pedro II) se pronunciou em favor de uma educação liberal das mulheres. Todo mundo sabe que a instrução das princesas foi não somente vigiada, mas mesmo em parte pessoalmente dirigida pelo pai."
(Agassiz. Voyage au Brésil, 1865-1866).
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