Os bororos orientais. Orarimogodogue do Planalto Central de Mato Grosso.

faltam dúvidas. Pedimos vênia para discordar. Maeréboe é antigo belíssimo termo da mitologia dos bororos. Compõe-se de Máere = sempre e Bóe = gente, coisa, ser ou ente, isto é, "ente de sempre", o Eterno, o Jeová ou Javé dos Hebreus.

Os missionários salesianos já encontraram este nome, mas não quiseram adotá-lo para significar o verdadeiro Deus, porque, apesar da sua formosa ideia etimológica, vinha naturalmente envolto nas grosseiras concepções antropomórficas do índio. Preferiam a princípio, quando ainda mal conheciam a língua, o termo infeliz Pai-Grande que os bororos adulteraram em Pai-Grato.

Mais tarde, porém, forjaram a expressão Aróemigéra = chefe, senhor dos espíritos, Espírito Supremo, unindo-a, todavia, ao termo português - "Deus". Deus aroe-migéra, é como os Bororos da catequese salesiana invocam ao Senhor Deus dos cristãos.

Finalmente, o próprio vocábulo bororo, que muita gente ainda pronuncia bororó, mereceria estudo particular, que lhe pesquisasse origem. Existe, é verdade, nesta língua, o vocábulo - bororo, que significa terreiro, pátio, praça, mas não sei que relação semântica possa ele ter com o nome da tribo.

É preciso, pois, indagar alhures.

E, antes de tudo, convirá saber que os bororos não se chamam a si mesmos, originariamente, com este nome. Dão-se a denominação genérica de Bóe, em contraposição a Bráe, que são os civilizados. Distinguem-se depois as várias turmas com outros nomes tirados, por via de regra, das condições físicas das regiões que habitam. Assim, Bocu-kegéugue (os que estão no campo) são os loróros do rio das Garças; Orari-mogo-dógue (os que moram com os pintados ou Surubis) são propriamente os da Colônia Teresa Cristina; Itura-tada-boe (os que estão na mata) são os do Rio Vermelho; Tori-tadá-boe (os que estão nos morros) são os do Córrego-Grande, e assim por diante.

Foram, portanto, os civilizados que lhes impuseram o nome de bororos. Qual o étimo deste nome? Não sei.

Pode-se, contudo, conjeturar que venha do termo indígena bóro = não, que é a negativa tantas vezes repetida pelos índios.

Parece até natural que, de começo nas primeiras aproximações, os silvícolas, nada entendendo do que lhes perguntavam os civilizados, quase que se limitassem a responder-lhes bóro, não. E de bóro muitas vezes repetido, ter-se-ia plasmado o gentílico bororo.

Afinal, se as línguas clássicas da Provença se denominaram langue d'oc e langue d'oil, precisamente pelo modo com que diziam sim, e o Dante designava a sua bela pátria, escrevendo simplesmente: il bel paese là dove il si suona; que muito que os nossos bororos fossem denominados, ao inverso, pelo vocábulo com que dizem não?

Esta origem etimológica viria confirmar a prosódia do vocábulo bororo, que, é aliás, como os próprios índios pronunciam, e não bororó.

Se non ê vero...

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