plenamente apreciar, suprindo com os conhecimentos próprios os elos omitidos. Pensador para elites; mestre para mestres.
Cintilante embora o estilo, cheio dos mais imprevistos achados, brocado recoberto de fulgurantes joias, nunca seria escritor popular, pois a mediania lhe não alcançaria a compreensão completa.
E era puro gozo estético e intelectual ouvi-lo palestrar, quando encontrava interlocutores de igual quilate, e mais, quando surgiam divergências de opinião. Erudição, reminiscências, humour, pilheria nortista, sentimento fundo da nacionalidade, até nas boutades e nas indignadas apóstrofes, tudo vinha em borbotões faiscar na argumentação convencida e ardorosa do debate empenhado. Observações inéditas, aproximações luminosas que nada permitia prever, características quase femininas em sua estesia, percepção aguda do detalhe, capacidade de pela palavra descrever as grandes sínteses, tudo brotava a flux nessas admiráveis discussões.
Assistente mudo e extasiado, era uma festa do espírito ter-se a ventura de presenciar justas dessa ordem, no correr de afetuosas e inspiradas conversas com outros beneméritos do pensamento nacional: Rio Branco, amigo e admirador de Capistrano, que sem limites lhe retribuía os sentimentos; Joaquim Nabuco, na fase preliminar da missão de Roma, no preparo dos documentos brasileiros sobre o conflito lindeiro com a Guiana Inglesa; Martins Francisco, amigo constante e inseparável, com o qual vivia em desacordo turrão e a quem tanto queria; Vieira Fazenda, cuja memória acatada nesta casa desperta tanta saudade dorida.
Involuntariamente, acudiam ao espírito as descrições que traça a Ilíada dos combates entre deuses.