Ao aportar em Gibraltar, a 2 de setembro, recebeu Brant as aterradoras notícias que lhe derruíam todos os elementos da missão. D. Miguel, traindo seu irmão e sua sobrinha e noiva, usurpara o trono em Lisboa. A Áustria o sustentava ocultamente. Fernando VII de Espanha auxiliava por todos os modos aos absolutistas de Portugal, a d. Miguel e d. Carlota Joaquina.
Para maior tornar o desastre, Canning, o grande espírito liberal com quem Felisberto teria podido contar no apoio aos direitos da rainha-menina, Canning tinha morrido e sua orientação fôra substituída pelo ideal high tory do duque de Wellington e de lord Aberdeen para os quais o oráculo era Metternich.
Nessas condições, levar d. Maria da Gloria à corte de seu avô era destruir o único elemento de resistência à usurpação; valia por entregar em refém ao aliado escuso do usurpador a soberana legítima do reino. Voltar ao Brasil era ofender, sem razão ostensiva, ao imperador austríaco. Zarpar para a Madeira, que não havia reconhecido como legal a ascensão de d. Miguel, seria empresa arriscadíssima e aleatória e sujeita aos embates das tropas miguelistas, que, de fato, conquistaram a ilha a 22 de setembro.
E uma solução urgia, pois ainda havia o grave perigo do aviso espanhol a Lisboa e da captura pelos cruzeiros portugueses da criança coroada e destronada.
Aí deu Felisberto Caldeira Brant a plena medida de seu valor como estadista.
Os acontecimentos haviam anulado suas instruções. Da decisão que tomasse pendiam: a sucessão da coroa de Bragança, legítima em um caso, usurpada no outro; o reconhecimento dos direitos de d. Maria da Gloria; o triunfo absolutista ou o governo liberal na terra das quinas.