Estudos Históricos e Políticos

prova que nenhuma improvisação houve, e que, ao contrário, tudo fôra meditado e previsto, e já com o desconto do alcance da medida sobre a situação internacional de Portugal. Viagem definitiva para manter a independência pátria sem mais receios de Napoleão, se este viesse a triunfar de modo permanente. Viagem de ida a que se seguiria a de volta, se a Inglaterra vencesse o Corso.

Nada de evasão desabalada e imprevista, tudo estando organizado para executar o plano político longamente e maduramente pensado. Mas hesitação em dar os passos decisivos: não fosse d. João o infeliz medroso que era! Esperto, entretanto, e que só sabia vencer pelo cansaço e pela dilação. Como decidir-se entre os dois papões: a França já em marcha para invadir Portugal, sem que o príncipe se rendesse à evidência, e tentando propiciar e negociar e corromper para conseguir o retrocesso ou a paralização do avanço das forças; a Grã-Bretanha, com o rude e intolerável Strangford como ministro em Lisboa, e a esquadra de Sidney Smith no Tejo a lhe abonar as palavras, praguejando e ameaçando se desobedecessem às imposições inglesas, mas prometendo tudo em caso da submissão lusa ao que exigia a política insular!... Nesse conflito, o que estava em jogo era a esquadra das quinas, igualmente cobiçada por ambos os adversários: pelo francês, para reconstituir sua força naval aniquilada por Nelson, em Trafalgar, e pela impossibilidade de recorrer aos neutros após a tomada dos navios dinamarqueses, em Copenhague; pelo bretão, para impedir a manobra inimiga. E d. João queria conservá-la para o próprio reino. Não tolerou maiores ladeios e adiamentos a impaciência imperial. Junot, pouco propenso a delicadezas e cortesias, foi o executor das ordens de Paris, executor impetuoso, brutal e rápido. Já havia transposto a fronteira hispano-portuguesa, e nada ainda se sabia em Lisboa, cheia de discussões e de projetos

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