Estudos Históricos e Políticos

XIX

Terminada esta sumaríssima resenha das alterações, propostas para melhorar e corrigir pontos que a prática mostrou maus ou deficientes na Constituição, convirá olhar de mais alto e encarar o principal defeito do aparelho governativo do Brasil: a falta de continuidade nas administrações.

Vivemos em crises periódicas quadrienais. Quando o novo presidente conhece a administração federal, e o pessoal, político, profissional e administrativo, com que tem de lidar, começa realmente a trabalhar desde o primeiro dia da posse. Mas, sem falsas lisonjas, esta não tem sido a regra constante. Redobra a gravidade da situação, quando os auxiliares também vão fazer sua aprendizagem nas pastas, não estando para elas preparados por fortes estudos anteriores: é o caso geral das escolhas meramente políticas. Chegando em vésperas da sucessão, nova crise se declara com a agitação das candidaturas. Feliz o país se, do quadriênio, três anos são de fato aproveitados para tratar de seus interesses permanentes.

Onde a causa do mal? No regimen de crises e de descontinuidade, adotado como processo normal.

No Império, o chefe da nação, o Senado e o Conselho de Estado eram institutos permanentes, criadores e mantenedores da tradição: senhores dos negócios públicos desde suas origens, e deles tratando com insuspeição, patriotismo e critério, cada qual à luz de suas convicções. Os legados que nos deixaram, nos pareceres, nas consultas do Conselho de Estado, são monumentos de erudição, clarividência e senso político.

Na República, onde tudo muda, é transitório, em períodos reduzidos, mais do que em outro qualquer sistema,

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